segunda-feira, janeiro 2

..::..É essa a verdade... (...pelo menos a minha verdade...)..::..

[tinha uma foto de fada.. tão bonita! eu gosto desse meu texto... =D]
INT - Quarto cor-de-rosa de uma menininha de quatro anos. Noite de vinte e dois de novembro de mil novecentos e noventa e sete. A mãe colocava a menina pra dormir, enrolava-a na coberta como que para ela não cair da cama durante a noite. O céu estava com a Lua cheia e bastante estrelado. A menina sorria olhando para a janela de onde se podia ver o brilho de uma noite sem poluição... A cidade eu não sei bem onde era, só sei que a menininha estava abraçada a uma boneca de pano.
"Mamãe... é verdade que eu nasci fada?"
"Todas as meninas nascem fadas..."
"...hmmm... e os meninos? Fados?"
"Não... os meninos são pequenos príncipes..."
"Mas outro dia eu ouvi uma moça na rua reclamando que não existem mais príncipes encantados."
"A verdade é que ela ainda não encontrou o dela."
"Por quê?"
"Porque pra cada fada, o Papai do Céu dá um príncipe... mas às vezes ele esquece onde colocou o príncipe ou a fada e coloca o outro num lugar longe."
"Por quê?"
"Porque o Papai do Céu é um moço muito atarefado que cuida da gente do mundo inteiro." "Dos ETs também?"
"Também."
"E os ETs voam, né?"
"Eles têm discos voadores."
"Por que a gente não tem disco voador?"
"Porque a gente tem avião, helicóptero, foguete, passarinho, borboleta..."
"Por que você não falou da mosca e do mosquito?"
"A gente tem muitos bichinhos... eu esqueci..."
"O mosquito é filho da mosca?"
"Por quê?"
"Porque tinha um desenho na TV que chamou a menina Ana de Anita... então... a mosca seria mosquita, só que como é menino é mosquito."
"Eu não tinha pensado nisso..."
"Mas, mamãe, você não sabe muito?"
"Filhinha, acho que você sabe mais do que eu..."
"Por quê? Você que é gente grande... eu sou gente pequena."
"Às vezes, as gentes pequenas sabem bem mais do que gente grande. Gente grande esquece das coisas que aprendeu quando era gente pequena, porque acha que tem muita coisa pra pensar."
"Ahhh..."
-silêncio-
"Mas, mamãe... se a gente pequena sabe mais, por que a gente grande não escuta a gente pequena?"
"Porque... a gente grande ficou muito grande que de vez em quando não escuta..."
"É mamãe?"
"É sim..."
"Por que você consegue me escutar?"
"Porque eu te amo."
"Quem não me ama não me escuta?"
"Quem não te ama?"
"Não sei. O papai me ama?"
"Ama muito!"
"Mais do que você?"
"Igual."
"Mas ele pode amar igual?"
"Pode..."
"E você ama o papai?"
"Muito, muito."
"Muito, muito é mais do que você me ama?"
"Não, filhinha... a mamãe te ama mais que tudo!"
"E o papai?"
"Também. Você é a nossa princesinha!"
"Mas... eu não sou fada?"
"É nossa fadinha, nossa princezinha."
"Principezinha?"
"Princesinha..."
"Por quê?"
"O que?"
"Porque eu sou uma princesinha se não tenhouma coroa igual a da Cinderella e da Bela Adormecida?"
"Porque você não tinha nem uma madrasta má, nem dormiu por cem anos... e também ainda não encontrou seu principezinho."
"Por quê?"
"Porque você ainda tem que ser criança primeiro..."
"Mas eu não sou fada?"
"É sim..."
"E cadê as minhas asas iguais a da Flora, da Fauna e da Primavera?"
"Elas tão escondidas... ainda não deu tempo de nascer..."
"Ah é? Onde?"
- a mãe aponta para o coração da menina -
"Mas, mamãe... eu vou ter asas aqui na frente? Como eu vou conseguir voar?"
- a mãe ri -
"Não... suas asas estão guardadinhas aqui. Quando for a hora, elas vão sair aqui."
"Ahhhh..."
"Entendeu??"
"Mas não era e que devia saber isso?"
"Por quê?"
"Porque gente pequena sabe mais que gente grande..."
"É que tem gente grande que ainda lembra algumas coisas de gente pequena e fala isso pras gentes pequenas pra depois, quando a gente grande esquece, quem era gente pequena vai lembrar."
"Então você vai esquecer logo?"
"Talvez"
"Pode deixar que eu não vou deixar você esquecer, tá, mamãe?"
"Tudo bem" - diz a mãe sorrindo -
"Mamãe!"
"Sim..."
"Amanhã você me conta como as fadas nascem?" "Tudo bem..."
"Mas você não esqueceu, né?"
"Não, minha fadinha"
"Vai esquecer amanhã?"
"Não, porque você me pediu pra lembrar..."
"Tá bom... então amanhã você me conta..."
"Tá com soninho?"
"Uhunnn...."
-e dormiu-
sábado, 30 de julho de 2005
.::.ATO II.::.
INT. - Cozinha de azulejos brancos, teto de gesso, cortina branca esvoaçante com pimentas vermelhas penduradas em fios de nylon que formam outra cortininha da janela em frente à pia, alguns armarinhos para guardar panelas e coisas de cozinha, fogão com uma chaleira com água a ferver, mesa redonda coberta por toalha branca e cobre-manchas florido com quatro cadeiras em volta, uma fruteira com bananas, laranjas e maçãs está disposta ao centro da mesa. A menininha e a mãe estão lá. A menininha sentada com pantufas, pijama de ursinho cor-de-rosa, cabelos úmidos do banho que acabara de tomar. A mãe de calça bailarina preta e um moletom chumbo, cabelos presos num coquezinho mal-feito preso por uma piranha, apenas um dos brincos na orelha. A boneca de pano está na outra cadeira, sobre o jornal do dia, com uma toalha na cabeça e o outro brinco da mãe pendurado no bolsinho do vestido como se fosse um broche novo. que exibia.
*Vc esqueceu já...* disse a menininha.
*Do quê?* perguntou a mãe.
*Dos teus sonhos*
*Por quê?*
*Você me falou...*
*Hein?*
*Ia me contar... de onde as fadas vêm.*
*Mas quem disse que eu esqueci, meu bem?*
*Você ia contar no dia seguinte e ainda não contou.*
*Mas hoje é o dia seguinte da história que a menina tá inventando...*
*Mas não é o nosso dia seguinte, já passou quase um mês!*
*Mas a gente tem que respeitar as idéias desses roteiristas malucos que inventam a gente.* *Por que eu sou inventada? Eu não sou de verdade?*
*É sim, mas você é uma fada. Ainda tá só escondida atrás desse papel de menininha, minha filha aqui nesse quarto.*
*E quem é esse tal de rote... rote o que, mamãe?*
*Roteirista.*
*Mas você não tinha dito antes que era uma menina que tava escrevendo e que inventou a gente?*
*[pensando a mãe]OoOops... acho que falei demais e devia ter apagado essa linha, pelo menos como fala...*
*A menina é o roteirista?*
*Na verdade, filhinha, a menina-roteirista é você. Cada um faz a sua história. Com mais ou menos magia... a vida vai acontecendo assim, sempre.*
*Ah é? E por que cada um escolhe ficar sem magia?*
*Por que as pessoas sentem medo de se perder de vez em quando num mundo desconhecido que, muitas vezes, pode ser melhor do que o que ele acha que tá vivendo...*
*Como?!*
*Assim, minha pequena: lembra daquela história de gente grande e gente pequena? De gente pequena saber bem mais que gente grande?*
*Sim* *Pois então, a gente usa isso. A gente grande fica com medo de muita coisa. Quando a gente é pequeno parece que pensa em menos coisas...*
*Eu não acho isso certo...*
*Por quê?* pergunta a mãe intrigada.
*Porque a gente pequena tem que aprender muita coisa na escola e gente grande não precisa ir na escola.*
*Sim, a gente grande não vai à escola de gente pequena. mas você não vê que o papai tá sempre saindo bem cedinho e a mamãe sai depois que te deixa com a tia Cida?*
*Uhun...*
*Então, a gente vai pra escola de gente grande que é um lugar de aprender, mas aprender diferente...*
*Como assim aprender diferente? Vocês aprendem a pensar igual à gente pequena?*
*Não, meu amor... a gente aprende a pensar cada vez mais que nem gente grande...*
*Mas se a gente pequena sabe mais...*
*É coisa de gente grande... Eles não entendem que tem que pensar mais parecido com as gentes pequenas...*
*Mamãe... Eu acho que hoje não vai dar também pra você me contar a história das fadinhas...* *Por quê? Tá com sono?*
*Não.*
*Então...*
*É que eu queria entender primeiro por que as gentes grandes desistiram de acreditar em fadas. Outro dia eu falei com o moço que fica andando lá perto da sala de brinquedo que eu era uma fada e ele ficou olhando e olhando. Perguntou onde tava a minha asa. Eu tentei explicar que as asas ainda tavam escondidas, mas ele ficou meio confuso...*
*É... eu não te falei que as gente grandes pensavam diferente?* *Então você não é gente grande, né, mamãe?*
- risos -
*Pequenina, a mamãe é... não sei te explicar...*
*É a fada-rainha, né? Porque eu sou fada-princesa!*
- o relógio bateu sete horas da noite. ainda usavam um relógio antigo de parede que estalava as badaladas como que avisando alguma coisa. -
*Mãe-mãe... acho que tá na hora de desligar o chá, né?*

1 *psiu! clica aqui!:

Anonymous Anônimo *me contou...

LIndo texto... sem palavras. Há se todas as mães fossem assim... há se eu tivesse sido assim.
Simplesmente maravilhada. Parabéns!

8:22 AM  

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